segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Professores


Agora que um novo"regresso às aulas" está iminente, toda a gente se lembra de falar nas escolas e nos professores, dizendo coisas mais ou menos pertinentes, ou tremendos disparates. 
Mas no "Observador" de sexta-feira passada, dia 14 de Setembro, há um artigo de Teresa Espanssamdim, que vale pena ler. Diz isto, por exemplo:
O enorme desgaste físico e emocional a que estão sujeitos, a perda de reconhecimento social, a precariedade laboral e falta de estabilidade familiar em que tantos vivem, a diversidade de perfis de estudantes e níveis de ensino com que têm de trabalhar acrescida da carga de tarefas burocráticas, a exposição constante de si mesmos perante grupos de crianças e de adolescentes tantas vezes indisciplinados, escrutinados e desvalorizados por pais e mães que por vezes se demitem das suas também responsabilidades educativas faz-me pensar acerca do auto-cuidado dos professores. Que condições encontrarão eles para assegurarem o seu bem-estar, se dedicarem ao seu desenvolvimento pessoal, cuidarem de si enquanto pessoas (...)?
De facto, só quem já passou por isso ou é confrontado com essa dura realidade quotidianamente sabe como é complexa, absorvente e desgastante a profissão de professor. Não por causa das aulas e dos alunos em si, mas pelo que tem de se trabalhar em casa num número de horas sempre muito superior ao que o horário estabelece, pela quantidade excessiva de reuniões, que na maior parte dos casos não servem para coisíssima nenhuma, pela impossibilidade de "desligar", pelo stress constante de um dia gerido a toques de campainha que quase não deixa tempo para respirar. É por isso que é totalmente falsa a ideia mais ou menos generalizada de que os professores "têm muitas férias", ou que ganham muito. Isso justifica, com certeza, o facto de hoje quase não haver candidatos à profissão.
Aos professores falta, acima de tudo, tempo. Precisam de tempo para si, para pensar, para em sossego poderem imaginar como tornar as suas aulas mais aliciantes e inovadoras. Há quem considere que os professores ao fim de um certo tempo já não preparam aulas; que lhes basta chegar lá e começar a dizer "umas coisas", como quem carrega num botão. Não é nada disso. Ninguém tem a noção do que significa ver 240 ou 300 testes a cada três meses, para além do cumprimento do seu horário de trabalho semanal. Ou das leituras que têm que se fazer e de número de horas necessário a uma preparação decente do trabalho diário.
Depois, os professores, contrariamente a quase todos os outros trabalhadores, não podem ter férias a não ser em Agosto, com tudo o que isso implica de sítios sobrelotados e mais caros que no resto do ano. E têm os mesmos direitos que os outros trabalhadores, isto é, 22 dias de férias por ano. Quando as aulas terminam não ficam de férias: há os exames e as matrículas, a formação de turmas e os horários, e um sem número de trabalhos muito pouco pedagógicos e muito mais administrativos que são feitos por eles, o  que não acontece em grande parte dos outros países.
Também é falso o que dizem os "estudos" de origem duvidosa sobre os professores ganharem muito, os quais aparecem sempre em alturas-chave. Ora, em Portugal, um professor em fim de carreira tem um ordenado líquido que ronda os mil e setecentos euros, muito diferente dos valores que circulam na comunicação social e nas redes. Como é nos outros países? Em Espanha, só para dar um exemplo que está mesmo aqui ao lado, esse valor é o que ganha um professor primário. E por aqui, já se vê a diferença...
Há, como em todas as profissões, pessoas incompetentes e incumpridoras, entre os professores. Mas tendo em conta as condições em que trabalham e tudo o que lhes é pedido, podemos considerar que a maioria faz verdadeiros milagres. Talvez porque, como acontece comigo, apesar de tudo, grande parte deles gosta do que faz e, mesmo dizendo-se "cansado" e "farto" muitas vezes, dá o melhor de si todos os dias. É pena que quem fala sem saber não o valorize como deveria.