quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Escola inclusiva ou talvez não...

A  questão da "escola inclusiva" é quanto a mim uma verdadeira falácia. E digo-o porque já há muitos anos que penso na questão. A ideia de misturar alunos com reais necessidades educativas, a necessitar de apoio especial e individualizado, em escolas e turmas de ensino regular é muito bonita em teoria, mas na realidade serve apenas para segregar ainda mais este tipo de alunos, acentuar o que os distingue dos outros e torná.-los infelizes, a eles e a quem tem de lidar com essa realidade diariamente. Pior é esta gente que chega ao Ministério de Educação cheia de "novas" ideias que são apenas velhas ideias "travestidas" e desata a fazer "experiências pedagógicas" com os alunos e os professores como cobaias sem se importar muito com os efeitos que elas possam ter sobre os principais implicados.
Li ontem um interessante artigo sobre esta questão, cuja leitura recomendo. Diz isto, por exemplo:
Ter todos dentro da escola é um excelente princípio, que nenhum civilizado contesta. Mas os demagogos iludem, em nome do populismo pedagógico, a necessidade de dotar as escolas dos meios, humanos e materiais, para que ela seja uma via de inclusão. E mais que isso (ou pelo menos a par disso), a dura realidade da vida impõe que reconheçamos que uma escola igual para todos é uma abstracção utópica, inconciliável com a circunstância de termos muitos, à entrada, que nunca poderão ser iguais aos outros, lá dentro. Trabalhar a diversidade supõe, numa escola forçosamente orientada para as massas, sair, em situações extremas, dos ambientes de homogeneidade, voltando a eles quando seriamente for viável. Isso é perseguir a integração possível. Outra via, qual seja a de fingir que determinados alunos podem dar respostas que sabemos que nunca poderão dar, pedindo do mesmo passo aos restantes que fiquem parados, é (afirmação politicamente incorrecta) promover a exclusão dupla.
Ou a inclusão é pensada a partir das realidades dos alunos, ou a inclusão é pensada a partir do discurso dos teóricos. No primeiro caso, cabe à escola descobrir soluções. No segundo basta-lhe aceitar imposições. Difere o grau de responsabilidade política quando o que se faz é por ignorância ou por consciente demagogia. Mas a consequência para os que nasceram diferentes é a mesma: ficam para trás, em nome de uma falsa inclusão.
Pôr alunos destes juntos de outros com contextos e situações de aprendizagem muito diversos, em turmas enormes e com apoios que são mais no papel do que efectivos serve apenas para tranquilizar consciências, tal como aquelas pessoas que dão uma "esmolinha" a um pedinte, seja ele qual for, e ficam satisfeitas com isso, mas são indiferentes às reias necessidades de quem está mesmo ao seu lado. Assim, não vamos longe; não vamos, aliás, a lado nenhum...

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Professores


Agora que um novo"regresso às aulas" está iminente, toda a gente se lembra de falar nas escolas e nos professores, dizendo coisas mais ou menos pertinentes, ou tremendos disparates. 
Mas no "Observador" de sexta-feira passada, dia 14 de Setembro, há um artigo de Teresa Espanssamdim, que vale pena ler. Diz isto, por exemplo:
O enorme desgaste físico e emocional a que estão sujeitos, a perda de reconhecimento social, a precariedade laboral e falta de estabilidade familiar em que tantos vivem, a diversidade de perfis de estudantes e níveis de ensino com que têm de trabalhar acrescida da carga de tarefas burocráticas, a exposição constante de si mesmos perante grupos de crianças e de adolescentes tantas vezes indisciplinados, escrutinados e desvalorizados por pais e mães que por vezes se demitem das suas também responsabilidades educativas faz-me pensar acerca do auto-cuidado dos professores. Que condições encontrarão eles para assegurarem o seu bem-estar, se dedicarem ao seu desenvolvimento pessoal, cuidarem de si enquanto pessoas (...)?
De facto, só quem já passou por isso ou é confrontado com essa dura realidade quotidianamente sabe como é complexa, absorvente e desgastante a profissão de professor. Não por causa das aulas e dos alunos em si, mas pelo que tem de se trabalhar em casa num número de horas sempre muito superior ao que o horário estabelece, pela quantidade excessiva de reuniões, que na maior parte dos casos não servem para coisíssima nenhuma, pela impossibilidade de "desligar", pelo stress constante de um dia gerido a toques de campainha que quase não deixa tempo para respirar. É por isso que é totalmente falsa a ideia mais ou menos generalizada de que os professores "têm muitas férias", ou que ganham muito. Isso justifica, com certeza, o facto de hoje quase não haver candidatos à profissão.
Aos professores falta, acima de tudo, tempo. Precisam de tempo para si, para pensar, para em sossego poderem imaginar como tornar as suas aulas mais aliciantes e inovadoras. Há quem considere que os professores ao fim de um certo tempo já não preparam aulas; que lhes basta chegar lá e começar a dizer "umas coisas", como quem carrega num botão. Não é nada disso. Ninguém tem a noção do que significa ver 240 ou 300 testes a cada três meses, para além do cumprimento do seu horário de trabalho semanal. Ou das leituras que têm que se fazer e de número de horas necessário a uma preparação decente do trabalho diário.
Depois, os professores, contrariamente a quase todos os outros trabalhadores, não podem ter férias a não ser em Agosto, com tudo o que isso implica de sítios sobrelotados e mais caros que no resto do ano. E têm os mesmos direitos que os outros trabalhadores, isto é, 22 dias de férias por ano. Quando as aulas terminam não ficam de férias: há os exames e as matrículas, a formação de turmas e os horários, e um sem número de trabalhos muito pouco pedagógicos e muito mais administrativos que são feitos por eles, o  que não acontece em grande parte dos outros países.
Também é falso o que dizem os "estudos" de origem duvidosa sobre os professores ganharem muito, os quais aparecem sempre em alturas-chave. Ora, em Portugal, um professor em fim de carreira tem um ordenado líquido que ronda os mil e setecentos euros, muito diferente dos valores que circulam na comunicação social e nas redes. Como é nos outros países? Em Espanha, só para dar um exemplo que está mesmo aqui ao lado, esse valor é o que ganha um professor primário. E por aqui, já se vê a diferença...
Há, como em todas as profissões, pessoas incompetentes e incumpridoras, entre os professores. Mas tendo em conta as condições em que trabalham e tudo o que lhes é pedido, podemos considerar que a maioria faz verdadeiros milagres. Talvez porque, como acontece comigo, apesar de tudo, grande parte deles gosta do que faz e, mesmo dizendo-se "cansado" e "farto" muitas vezes, dá o melhor de si todos os dias. É pena que quem fala sem saber não o valorize como deveria.

terça-feira, 6 de março de 2018

Não querer ver o óbvio...




É verdade que tenho sido um pouco negligente com "o meu mais novo", mas hoje decidi reanimá-lo, porque encontrei nas redes sociais um interessante texto de Valter Hugo Mãe, que até é um escritor que não aprecio. O texto já é antigo, foi publicado no Jornal de Letras, em 19 de Setembro de 2012 e diz, por exemplo, isto:
(...) A escola como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual (...) onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho.(...)
Os alunos nascem diante dos professores uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. (...) perseguir  e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. (...) Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são  fundamentais para melhorar os nossos miúdos, é o fim do mundo. (...) As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. (...) E um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se.
É por isto e muito mais (porque toda a gente se permite opinar sobre o que não entende, por exemplo) que mesmo quem, como eu, gosta de ensinar, vai ficando farto. E não é dos alunos, nem das aulas. É de tudo o que está para além disso e faz com que se esqueça  e desvalorize o essencial. É pena...