Haverá sempre os defensores do caminho facilitista, os que querem "nivelar por baixo" e que acham que a literatura é para as "elites", porque os textos são demasiado difíceis. Esta é a posição assumida, por exemplo, pela inenarrável Associação de Professores de Português, na qual a maior parte dos professores não se revê e cujas posições públicas sobre os mais variados assuntos nos fazem corar de vergonha.
Há hoje, de resto, uma tendência crescente para considerar que a literatura, em particular, e as Humanidades, a cultura e as artes, em geral, não servem para nada, ou têm uma importância menor, normalmente associada ao lazer e ao ócio e restrita a certos meios, ditos "intelectuais". Nada mais errado!
Os que assim pensam e que defendem o utilitário e o pragmático, acreditando que apenas importa aprender a fazer coisas de uma forma mecânica, quase sem pensar, esquecem a visão crítica sobre o mundo que o ensino da literatura permite; esquecem que só a leitura conduz à escrita e que para escrever bem é preciso ler muito. E que a leitura ajuda à concentração, desenvolve a imaginação, proporciona emoção e permite a conservação de um património artístistico, histórico e cultural, formando cidadãos mais lúcidos, capazes de raciocínios mais consistentes, de maior sensibilidade, a consciência do valor da língua em todas as suas possibilidades e realizações e que, como alguém dizia no Sábado, julgo que talvez Maria Alzira Seixo, "a literatura não resgata o mundo, mas ajuda a compreendê-lo e a suportá-lo".
Que "é através da literatura que a língua atinge a sua máxima realização" e que é importante "pensar a literatura num tempo em que impera o paradigma tecnológico" como dizia António Carlos Cortez em entrevista ao DN há três anos e alguns meses: "Quando retiramos a complexidade dos textos retiramos aos alunos a possibilidade de alcançarem uma maior amplitude intelectual. Hoje vemos que há toda uma geração que não sabe interpretar os conteúdos das mensagens que lhe são transmitidas, que não tem vocabulário para falar, nem para pensar. Há uma imaturidade generalizada nos jovens em consequência dessa imaturidade pressuposta por aqueles que acharam que os alunos eram incapazes de ler (...) Alexandre Herculano ou Camilo Castelo Branco. Foi a ditadura do banal imposta pelas Ciências da Educação e os seus bons sentimentos que levou à perda de uma geração inteira que não sabe escrever, que lê pouquíssimo, porque se patrocionou uma literatura infantil, uma literatura de entretenimento. (...) A propósito do provincianismo português Fernando Pessoa escreveu na revista Águia que todo o povo que é provinciano tem uma espécie de fetichismo da técnica. E os portugueses são assim. Substituíram a cultura por um hiperfascínio em relação a tudo o que é da ordem da máquina, do imediato, do concreto. (...) Há uma obsessão pelo pensamento estatístico e um decrescimento do pensamento crítico humanista (...) as gerações mais novas não podem viver reféns da ideologia do banal, do divertimento e do superflúo. As políticas educativas têm de dizer definitivamente "não" ao aventureirismo pedagógico e aos interesses partidários."
Foi nesta linha que surgiram as metas curriculares e o regresso aos currículos de autores e textos literários fundamentais, através dos quais se ensina e aprende tanto do que que é essencial para a vida.
Foi nesta linha que surgiram as metas curriculares e o regresso aos currículos de autores e textos literários fundamentais, através dos quais se ensina e aprende tanto do que que é essencial para a vida.
Importa pois dotar as crianças e os adolescentes de uma consciência literária e linguística, mas não exagerar nos conceitos demasiados "técnicos" que, além da sua duvidosa utilidade, só servem para os afastar da disciplina de Português, cuja importância no currículo é crucial. O ensino do Português tem que se centrar na importância da leitura e da escrita, acima de tudo, na importância da reflexão e no desenvolvimento da argumentação e do espírito crítico. A preocupação não pode ser o imediatismo do exame, ou do programa. O que importa é ver mais longe e formar cidadãos mais conscientes e interventivos, capazes de observar o mundo criticamente e de ser mais felizes.
É um desafio gigantesco e tão urgente quanto difícil. Mas que, certamente, vale a pena!
(Escrito a 13 de Janeiro de 2014, este texto é reeditado agora, no momento em que o governo socialista volta às duvidosas experiências pedagógicas - veja-se a flexibilização dos currículos, por exemplo - e em que, aos poucos, o facilitismo volta a instalar-se...)
É um desafio gigantesco e tão urgente quanto difícil. Mas que, certamente, vale a pena!
(Escrito a 13 de Janeiro de 2014, este texto é reeditado agora, no momento em que o governo socialista volta às duvidosas experiências pedagógicas - veja-se a flexibilização dos currículos, por exemplo - e em que, aos poucos, o facilitismo volta a instalar-se...)
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