quarta-feira, 6 de julho de 2016

"Adorar muito" (ou exageros de amor e outras redundâncias...)


Como se já não bastassem todos os "eu antes prefiro", os "encarar de frente", "eu disse-lhe a ele" e "eu pessoalmente", ou os ainda mais óbvios "subir para cima" e "entrar para dentro", há agora a nova moda do "adoro-te muito", que vai ganhando cada vez mais adeptos.
Lembro-me que foi na escola que comecei a ouvir os adolescentes "adorar muito" o que quer que fosse: do(a) namorado(a) à música do momento, passando pelo prato preferido, ou qualquer outra banalidade. Mas era sobretudo para manifestar um afecto excessivo que a expressão mais se aplicava.
Diversas vezes expliquei, com zelo e paciência, que adorar era sinal de um querer extremo, com um elevado grau de significação, não necessitando, por isso mesmo, de ser superlativizado. Porque a palavra em si mesma já indicia muito amor, uma estima desmedida, devotada, aproximando-se, até, da veneração.
Nada a fazer! Hoje, os "adoro-te muito" alastraram como cogumelos e ouvem-se por todo o lado, ditos pelas mais insuspeitas criaturas, convencidas de que manifestam assim de modo mais expressivo e profundo a intensidade dos seus "sentires".
Enfim, amemo-nos muito, pouco, assim-assim ou loucamente, o que quisermos, mas se adoramos, isso já é tanto, que não precisa de ser "muito".
 Há cada mania mais irritante!...

(publicado pela primeira vez aqui)